sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O Pilar de Saramago

Posted by Revista Presença Lusitana | sexta-feira, 22 de outubro de 2010 | Category: |

O mundo inteiro conhece a obra de José Saramago, pelo mesmo também tem conta de seu carácter, da relação que tinha com a Igrega e a mulher que desde 1986 esteve junto  dele, Pilar del Río, a sua musa inspiradora. Esse amor é muito distinto da frieza que ele tinha em muitos temas, até com sua maneira de descrever a humanidade.

“Se eu tivesse morrido antes de te conhecer, Pilar, teria morrido sentindo-me muito mais velho. Aos 63 anos, a minha segunda vida começou. Não posso queixar-me. As coisas que você considera importantes não são tão importantes. Eu ganhei um Prémio Nobel. E daí?”

A declaração de José Saramago ao jornal americano New York Times resume a relação tão forte que desenvolveu com a sua segunda mulher, a espanhola Pilar del Río.

Até 1986, Pilar não conhecia Saramago, de facto, não tinha escutado dele alguma vez, mas uma certa tarde desse ano, por acasos do destino, foi a uma livraria, chamou a sua atenção um livro, O Memorial do Convento, título que lhe pareceu curioso, somente leu uma folha e ficou apaixonada. Após isso, Pilar voltou à livraria e comprou a obra toda traduzida em espanhol.

“Quando acabei de ler O Ano da Morte de Ricardo Reis foi uma comoção muito forte e decidi fazer o que não tinha feito nunca. Senti a necessidade de seguir aquele itinerário lisboeta, senti que tinha a obrigação moral de dizer a José Saramago o que tinha experimentado com a obra. Um autor só acaba a sua obra quando o livro é lido e entendido. E eu queria dizer-lhe: completou-se o ciclo, li-o e entendi-o então, vim com o meu livro e com O Livro do Desassossego de Pessoa”

No tempo em que estamos a falar é nos anos 80, quando falar com o escritor Saramago era acessível e ainda suficientemente disponível para ser ele quem tivesse um encontro com a jornalista espanhola que lhe telefonou. Eles viram-se sem saber o que podia acontecer depois de simplesmente uma cita para tomar café, mas não foi somente isso, foi um encontro de duas pessoas com ideologias semelhantes, um encontro de dois marxistas convictos. Falaram do que acontecia ao seu redor: “Falámos de política, do que se passava na Europa, e demo-nos conta de que estávamos no mesmo sítio, que os dois éramos marxistas, os dois éramos comunistas e aos dois nos interessava a literatura”

No dia seguinte, Saramago ligou Pilar, pediu-lhe o seu endereço e começou a estratagema de engate: “ele escreveu-me uma carta a dizer que se as circunstâncias da minha vida o permitissem, iria visitar-me. E as circunstâncias da minha vida permitiam-no.”

Já em 1987 estavam a viver juntos, mais tarde, no ano seguinte, casaram-se em Lisboa. Tempo depois voltaram a casar-se em Granada, Espanha em 1997.



Francisco De La Cruz. 

Currently have 0 comentários:


Leave a Reply