sexta-feira, 22 de outubro de 2010
A voz do fado
Posted by Revista Presença Lusitana | sexta-feira, 22 de outubro de 2010 | Category:
ACORDES [3]
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“Sou uma pessoa autêntica, que se deu completamente ao público e é por isso que o público se dá completamente a mim”
Amália Rodrigues
Ao longo e largo da terra, da vida e do tempo, verdadeiramente são poucas, poucochinhas as pessoas que deixam uma impressão profunda no espírito da humanidade. Alguns (os que não valem à pena lembrar) ficam na memória histórica por causa das suas atrocidades. Outros, pela beleza do seu talento artístico, criam raízes eternas no coração do homem.
Nesta segunda categoria é possível encontrarmos uma das grandes estrelas de Portugal, do fado e da música em geral: Amália Rodrigues.
Amália da Piedade Rodrigues nasce em 1920 na Beira Baixa numa família muito pobre, pelo qual, desde pequena mora com os avós maternos. Mesmo assim, a pequena Amália começa a demonstrar o que seria o seu futuro: cantar.
Dizia-me a minha família que aos 4 anos já ganhava a vida a cantar, pelas vizinhas que diziam “ó Amália, anda cá, canta lá esta”, e eu cantava.
É evidente que, como dizem por aí, infância é destino, pois desde muito nova o timbre da voz da Amália é percebido pela gente como algo especial, único. Por causa disto, à curta idade de 16 anos estrea-se cantando marchas populares nas ruas de Lisboa.
Depois disto, o sucesso é a palavra chave para descrevermos a longa carreira musical da rainha do fado. Onde ela se apresenta, esgota todas as locações mesmo que os bilhetes fossem custosos de mais. Tão rápido aumenta sua popularidade que até chega a participar em peças de teatro e filmes.
O mundo, afastado para muitas mulheres na sociedade de meados do século XX, será percorrido quase na sua totalidade por Amália Rodrigues. Um exemplo, pode ser a visita que realiza ao Brasil em 1944. Ninguém ia acreditar que o espectáculo planejado para quatro semanas se prolongaria mais de quatro meses.
O mundo todo, transforma-se em território de fado, em território de Amália. França, Espanha, a Irlanda, a Itália, os Estados Unidos. De facto, até países como o Japão e o México também sucumbiram ao prazer de ouvirem a saudade feita cantiga nos beiços de Amália.
São diversas as canções cheias de alma portuguesa interpretadas pela sua doce voz que ainda se conservam vivas, mas é uma em especial onde se pode ver o desgarramento do ser por causa de um coração com vida própria, a desgraça de um destino traçado e a pena de uma estranha forma de vida ditada pela vontade de Deus:
“Que estranha forma de vida
Tem este meu coração
Vive de vida perdida
Quem lhe daria o condão
Que estranha forma de vida”
Quando o salazarismo caiu em Portugal, devido a Revolução dos Cravos, o povo inteiro mostrou um rechaço a toda expressão que lhes lembrasse a ditadura, incluido o fado de Amália Rodrigues. Porém, o público não pôde esquecer a força maravilhosa dos sentimentos transmitidos nessas interpretações, abrendo mais uma vez os seus braços para abrigar aquela que sempre manteve o título de rainha.
Nossa Amália morreu um 6 de Outubro de 1999, não sem antes receber condecorações de todo o tipo. Mas, a melhor homenagem que nós, os lusófilos, podemos fazer-lhe é ouvirmos suas melodias, cantá-las, senti-las, amá-las, justo como ela o fez.
Jorge Mtz. Palafox.
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