sábado, 9 de outubro de 2010

A Renascença Portuguesa e o Saudosismo

Posted by Revista Presença Lusitana | sábado, 9 de outubro de 2010 | Category: |

A palavra saudade é um termo que sempre se relaciona com a cultura portuguesa. Ainda hoje, muitas pessoas têm tentado de explicá-la, de procurar um significado para outras línguas, alguns dizem que sim é possível de ser traduzida, outros opinam o contrário, mas o tema deste escrito não é mostrar se os estudiosos têm ou não razão senão falar de uma parte um bocado desconhecida do termo saudade e sua relação com a literatura.

No número passado da revista Presença Lusitana, no texto sobre o hino, falou-se de um ultimato feito pela Inglaterra a Portugal sobre suas colónias na África, isto junto com a perda da sua maior colónia, o Brasil, fez que os portugueses começassem a ver o fim do Império Luso que chegaria em 1910 com a instauração da primeira República. O ânimo da sociedade decaiu com os acontecimentos todos que estavam a viver e é precisamente quando o movimento chamado Renascença Portuguesa começaria a trabalhar para fazer uma nova nação no seu aspecto cultural.

A Renascença Portuguesa tinha duas correntes principais: o Criacionismo de Leonardo Coimbra e o Saudosismo de Teixeira de Pascoaes. Esta última tinha como objectivo primordial defender a sua pátria de duas decadências: primeiramente, a do fim das grandes Descobertas, e, a decadência de ver o elemento estrangeiro invadir Portugal, afastando o país da sua verdadeira alma.

Frente a esta consciência de decadência, Teixeira de Pascoaes encontra no termo saudade a ideia guia para a renovação espiritual do país. Edifica uma estrutura filosófica e eleva a palavra saudade, primeiro, à categoria de privilégio étnico português, e, depois a um centro no qual tudo teria de girar em torno e que levaria a uma nova grandeza, o mesmo renascimento espiritual de Portugal.

«A Saudade é o próprio sangue espiritual da Raça; o seu estigma divino, o seu perfil eterno. Claro que é a saudade no seu sentido profundo, verdadeiro, essencial, isto é, o sentimento-ideia, a emoção reflectida onde tudo o que existe, corpo e alma, dor e alegria, amor e desejo, terra e céu, atinge a sua unidade divina». E também determina o rumo da Renascença Portuguesa na mesma cita: «continuarei sempre a afirmar que o movimento da Renascença Portuguesa se faz e fará dentro da Saudade revelada, a qual se ergue à altura duma Religião, duma Filosofia e duma Política, portanto. Dentro dela, Portugal, sem deixar de ser Portugal, poderá realizar os maiores progressos de qualquer natureza». Sem claramente nos dizer como tais ideias se vinculam à Saudade, Pascoaes preconiza um Portugal diferente daquele que via a diário.

O Saudosismo por meio da literatura, da poesia principalmente, tentaria de mudar o rumo cultural do país, baseado no nacionalismo e na ideia de voltar a ser a grande nação dos tempos passados com a bandeira da palavra saudade «o Verbo do novo mundo Português».

“E não tinha a Saudade a sua origem
Remota neste céu misterioso,
Nesta bela paisagem transcendente?
E a sua origem próxima e sensível
Na alma profunda, mística e vidente
Deste Povo do Mar e da Montanha?”

( Teixeira de Pascoaes, Marános, 1911)

Gustavo Y.

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