sábado, 9 de outubro de 2010

Sozinho

Posted by Revista Presença Lusitana | sábado, 9 de outubro de 2010 | Category: |

O mesmo dia no qual Eu fiz vinte e quatro anos, encontrei a Anna, foi algo esquisito, pois já me tinha lembrado muitas vezes dela, mas nesse momento em que a encontrei também estava a lembrar-me de sua pessoa. Aquela antiga colega do ensino preparatório, ex-namorada minha, deu-me um abraço muito forte ao reconhecer-me e sem reparo acariciou-me afectuosamente as costas. Ela lembrava muito bem de que eu fazia anos dois dias depois do que Ela, convidou-me a jantar a sua casa nessa noite.

-Podes?
-Certeza absoluta menina!

Eu aceitei seu convite imediatamente, pois, é uma actitude das pessoas que têm ficado sozinhas por muito tempo.

A Anna também tinha ficado sozinha, longe daquele gajo que estudava na mesma escola que nós, só poderia lembrar que ele tocava o violão pior do que Eu, gajo que segundo ele era o meu “amigo”, quando na realidade somente queria ficar com a Anna. Ela morava com seus irmãos, com quem já tinha perto de dois anos sem falar, o tempo passa-se muito rápido, não é?

Pronto, fui para a sua casa, mais ou menos lembrava o endereço ( Ora essa! Como não vou lembrar-me se foi o primeiro amor na minha vida), tentei chegar à horas, mas a impontualidade é uma qualidade que tem muita presença em mim. De facto, reconheço que Eu estava nervoso pelo convite, comecei a pensar que haveria acontecido se eu houvesse ficado com ela até hoje...

Cheguei a sua casa, bati a porta, mas ninguém respondeu, voltei a bater, de novo, ninguém respondeu, achei isso um bocado estranho, porém, pensei que pela minha demora ela tinha ido embora, mas, não é normal que uma pessoa convide  outra a sua casa e não ela esteja nela; bom, isso penso Eu.. Além disso, tinha chegado tarde.

Fiquei a sua espera lá fora de sua casa, pode ser que somente saiu para trazer a comida que íamos jantar, ou está a tomar um duche, ou simplesmente não tinha ouvido a porta, então fiquei lá de fora. Passaram-se horas e ninguém saía nem entrava na casa, uma pessoa sã, já haveria ido embora, mas Eu não, estou sozinho. Já era muito tarde, as pessoas deixaram de passar pela rua, é engraçadito, também fiquei sozinho na rua...

-Não posso ficar cá fora, mas, tenho alguma coisa que fazer? Ou alguém está a minha espera em casa? A rua é o mesmo retrato desolado que há na casa, para que voltar, se a solidão está nos lados todos.

Estava zangado, mas o que verdadeiramente acontecia era que estava cansado, sentei-me na calçada, após isso, deitei-me na mesa, dormi, o que queria sonhar era que quando eu acordasse, Anna já houvesse chegado.

-Ó Daniel, é tarde, tens que voltar a tua casa, amanhã tens de apresentar-te na tua escola e Eu também na minha.

Acordei, mas não compreendia o que acontecia, as doces palavras foram de Anna, a cadeira onde eu dormia era de Anna, Eu estava na sua casa, lembrei de que já tínhamos anos de ser namorados, de estar juntinhos, tudo tinha sido um sonho, o que se passou é que quem não abriu a porta... foi a solidão.

Francisco De La Cruz.

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