sábado, 9 de outubro de 2010
Cantares das mulheres do Baixo Minho
Posted by Revista Presença Lusitana | sábado, 9 de outubro de 2010 | Category:
ACORDES [2]
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O Baixo Minho é uma antiga região do Noroeste de Portugal, parte da província do Minho, e que corresponde geograficamente ao moderno distrito de Braga; no entanto, nunca teve qualquer existência legal como província. O Baixo Minho é também lugar dos cantares polifónicos femininos, que ainda permanecem e é um dos géneros musicais menos conhecidos da música portuguesa.
Procurar saber de onde vêm os cantares polifónicos das mulheres do Baixo Minho é uma tarefa sempre conjectural e de demonstração impossível. Durante séculos, as condicionantes étnicas que vinham dos tempos medievais pouco mudaram para os rurais desta região A feminilidade existe nestes, estava presente nas cantigas, mantendo assim a tradição lírica.
Na sociedade rural do Baixo Minho, a mulher desempenhava um papel determinante no funcionamento das relações da comunidade, papel que lhe foi otorgado pelas funções tradicionais que elas assumiram. A mulher não impõe somente pelo trabalho; afirma-se igualmente pela palavra e pelo canto. É então através da palavra, dita e entoada que a mulher desta região, guardiã da tradição e possuidora de uma forte memória, exerce o papel de transmissora dos conhecimentos e do saber.
Mas já não se canta durante os trabalhos agrícolas, também cada vez menos se festejam, com cantos antigos, acontecimentos litúrgicos ou religiosos. Os cantares populares de carácter religioso como os Martírios, a Encomendação das Almas, os Cantos do Senhor de Fora, os Romeiros, e tantos outros quase deixaram de ser ouvidos.
Actualmente, a música litúrgica sofreu muitas transformações e evoluiu naturalmente, perdendo a maior parte das características arcaicas. Apareceram novas melodias com novas letras acompanhadas por órgão. Nas aldeias minhotas, porém, a conservação de alguns cantos mais arcaicos durante os actos litúrgicos depende do pároco que pode ser mais ou menos conservador, mais ou menos aberto à mudança. Em Goães, por exemplo, as velhas cantadeiras não se atreveram a cantar “coisas da igreja”, pois “isso agora é para as moças novas, ensaiadas por um seminarista que toca órgão electrónico”.
Na actualidade procura-se continuar com a tradição, por isso surgiram grupos como o “Grupo de Cantares Mulheres do Minho”, sediado em Braga, surgiu após um trabalho de pesquisa e de recolha da música cantada pelas lavradeiras minhotas. O Grupo de Cantares surgiu por se ter constatado que, pouco a pouco, as verdadeiras intérpretes desta música vocal vão desaparecendo. Uniu-se o gosto de cantar com a vontade de dar voz a estes cantos de mulheres. Assim nasceu este grupo que se constituiu como Associação em 1998 e nesse mesmo ano foi gravado e lançado o 1º CD. Alguns dos elementos do Grupo tiveram mesmo um contacto directo, na sua infância e mocidade, com estas manifestações musicais.
Dentro das tradições musicais do Minho, estes cantos femininos constituídos por polifonias vocais executadas a cappella (sem qualquer acompanhamento instrumental) ocupam um lugar de destaque mas são hoje muito pouco conhecidos. “Daí este projecto para divulgação” dizem as cantoras do Grupo de Cantares Mulheres do Minho.
Daniel Perales Valdéz.
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