sábado, 9 de outubro de 2010

Saramago e a religião

Posted by Revista Presença Lusitana | sábado, 9 de outubro de 2010 | Category: |

“…o planeta seria muito mais pacífico se todos fôssemos ateus...”
José Saramago

A humanidade inteira constantemente briga, luta e destroça-se por uma diversidade quase infinita de causas. Desde os problemas pequenos que desfazem famílias até os enormes conflitos entre nações que desembocam em horríveis guerras já conhecidas por todos nós. 

Um dos principais elementos que põem discórdia à fragil solidariedade e fraternidade dos homens é, sem lugar a dúvidas, essa enteléquia chamada religião. Neste momento, não iremos discutir a importância  da espiritualidade como peça transcendental da nossa vida; simplesmente tentaremos vê-la como uma ideologia perigosa que motiva e encarniça o ódio ao redor da terra.

Assim viu-o um dos maiores pensadores, escritores e críticos do século XX; o senhor prémio Nobel de literatura português, José Saramago. Sua palavra e suas ideias, foram feitas sempre com acidez e argumentação magistrais.

O evangelho segundo Jesuscristo, um dos romances mais conhecidos do autor luso é também uma obra capital onde dá conta de uma história alternativa sobre a vida da personagem protagonista do Novo Testamento bíblico. Aqui, convida o leitor a refletir da verdadeira natureza do diabo, do cristianismo e de Deus mesmo, como podemos ver no seguinte parágrafo: 

“Sim, se Deus existe terá de ser um único Senhor, mas era melhor que fossem dois, assim haveria um deus para o lobo e outro para a ovelha, um para o que morre e outro para o que mata, um deus para o condenado, um deus para o carrasco...”

Obviamente, numa sociedade em geral católica e conservadora como a portuguesa, isto não foi bem recebido, em particular pelo governo quem,aliás, censurou impedindo-o de representar o seu país num prémio literário europeu. Por causa disto, o senhor Saramago manteve uma relação difícil com Portugal que deixou simbolicamente em 1993.

Mas os desperfeitos da religião não deixaram de ser assinalados pela caneta do Nobel, pelo contrário, perante as condenas da  zangada hierarquia católica ele susteu os seus constantes juízos:

“Estes senhores (os cardeais e os bispos) supõem-se investidos de um poder que só a nossa paciência tem feito durar. Dizem-se representantes de Deus na terra (nunca o viram e não têm a menor prova da sua existência) e passeiam-se pelo mundo suando hipocrisia por todos os poros”.

 Inclusive, depois do Saramago morrer, o Vaticano desqualificou o falecido escritor, acusando-o de “populista, extremista e ideólogo anti-religioso”, demonstrando que as autoridades dessa igreja, supostamente baseadas nas palavras de um livro sagrado, não são somente intolerantes, senão até mentirosas, gerando decepção a milhões de crentes ao redor do mundo.

 Se calhar por isso, alguma vez o autor português disse: ”lê a biblia e perde a fé, porque a bíblia é um manual de maus costumes; na biblia há crueldade, há incesto, há violencia de todo o tipo, há carnificinas...”

 A dúvida universal dos humanos, poder-se-ia resumir nesta pergunta desesperada que se faz a um deus inexistente: “Quando chegará, Senhor, o dia em que virás a nós para reconheceres os teus erros perante os homens?” Desta maneira, José Saramago herda-nos uma obra muito abundante, riquíssima, cheia de metáforas e reflexões para desassossegarmos.

Jorge Mtz. Palafox.

Currently have 2 comentários:

  1. Difiro um pouco; acho que mais que ateus o que o mundo precisa é gente tolerante. Voltaire dizia: "Je ne suis pas d'accord avec ce que vous dites, mais je me battrai jusqu'à la mort pour que vous ayez le droit de le dire" ("Eu não concordo com o que você diz, mas lutarei até a morte por seu direito a dizê-lo"), e a gente deveria aprender disso, né? A igreja, os crentes, e até os ateus.
    E se for difícil agir com tolerância ou ainda compreender porque devemos pregá-la, seria bom pensar que simplesmente o ódio não é a solução... é bem mais fácil perdoar que fazer a guerra.

  2. Errata: Difiro um pouco com o senhor prêmio nóbel 1998 José Saramago; não com o senhor M. Palafox, a quem aproveito para parabenizar por tão interessante artigo.


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