sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Uma Rainha Imortal

Posted by Revista Presença Lusitana | sexta-feira, 22 de outubro de 2010 | Category: |

Quando comecei a ler sobre o tema de Dona Inês e Dom Pedro imaginei que era um romance pertencente à etapa romântica do século XIX, mas os dados encontrados nas leituras terminaram por me mostrar que a história tem uma combinação entre mito e realidade e que no imaginário colectivo dos portugueses esta mistura tem criado um relato único.

D. Afonso IV, pai de D. Pedro, foi o antepenúltimo rei da dinastia de Borgonha, o qual desde a sua ascensão ao trono teve problemas porque lutou contra o seu meio irmão, Afonso Sanches, pela coroa, desencadeando uma guerra civil de 1320 a 1324. Depois, quando já era rei de Portugal enfrentou-se contra Castela entre 1336 e 1338. Logo, em 1340, unir-se-ia com Castela para impedirem uma das últimas investidas dos árabes sobre a região europeia que marcaria a afirmação do território luso-hispânico.

Mas tudo começa com o casamento de D. Pedro com a princesa espanhola D. Constança em 1340. Quando a futura rainha de Portugal chega a terras lusas levava consigo uma dama de companhia, Inês de Castro. Inês era filha natural de D. Pedro Fernandes de Castro, mordomo do rei D. Afonso XI de Castela e um dos fidalgos mais poderosos do reino de Castela. E então quando as duas damas chegaram para Portugal poderia dizer-se que nasceu um amor à primeira vista de D. Pedro por Inês.

Ainda casado, Pedro tinha encontros amorosos com Inês. O príncipe, insatisfeito com o casamento, abandonava a mulher para ir caçar, sendo este um bom pretexto para não estar com ela, mas que criava muitas críticas do seu pai. Para tentar de mitigar o amor entre Pedro e Inês, esta foi convidada por Constança a ser madrinha do seu primogénito, Fernando, mas de nada serviu porque os namorados continuaram a se ver. A medida para separar os apaixonados foi arranjada por D. Afonso, o qual forçou Inês a abandonar o reino, para se alojar no castelo de Albuquerque, na Espanha.

Com Inês exilada, as coisas para o reino apercebiam-se melhores, mas em 1345 D. Constança morreu em labores de parto. Portanto, abriu-se o caminho para que os amantes passassem a viver um na companhia do outro. E foi, de facto, o que se sucedeu: D. Pedro mandou vir da Espanha a sua amada. Passaram a morar -ora juntos, ora separados- em Lourinhã e em Moledo. Mas como em toda história romântica algo teria de aparecer para truncar o amor dos dois seres.

Alguns problemas relacionados com a dupla de namorados, como a inveja e o medo de ter lutas novamente com Espanha, levaram nos primeiros dias do ano de 1355 a planejar a morte de D. Inês por parte do rei Afonso e os seus conselheiros. Em sete de Janeiro, partiram o rei e os conselheiros em direcção de Coimbra, com a finalidade de tirar a vida da que ameaçava a estabilidade do reino de Portugal. “Em vão foram os apelos de Inês em benefício próprio e dos seus três filhos. Embora, conforme reza o mito, tenha, o soberano, vacilado quanto a matar ou não Inês”, mas fê-lo, Inês foi degolada e o corpo da vítima foi trasladado para a igreja de Santa Clara.

O crime ensandeceu Dom Pedro, que arranjou as armas contra o pai, mas não o tirou do trono porque sua mãe D. Beatriz persuadiu-o de não fazer. Diz-se que o príncipe exclamou desolado: “Inês é morta” uma frase utilizado pelos portugueses para se referirem a um acto perdido, no qual já não há nada por fazer.

Em 1357, D. Pedro foi coroado oitavo rei de Portugal e a primeira coisa que fez foi vingar-se dos assassinos da sua amada. O seu pai já estava morto, mas os conselheiros estavam em Castela, pelo qual negociou com aquele reino para os regressar a terras lusas. Dois foram deportados, Pedro Coelho e Álvaro Gonçalves, e executados de modo cruel. O rei mandou arrancar-lhes o coração, porque segundo o relato, dizia que era assim que se sentia desde que D. Inês tinha morrido.

A segunda decisão tomada por D. Pedro I de Portugal, conforme algumas fontes, foi exumar os restos de Inês e coroá-la, também se diz que obrigou a nobreza e o clero -os que haviam condenado o romance- a ajoelhar-se diante dela e beijar-lhe os já ossos da mão. Mas o realmente certo é o traslado do corpo de Santa Clara a um belo túmulo construído no Mosteiro de Alcobaça. Apesar de ter perdido o seu grande amor, D. Pedro voltou a casar-se e teve vários filhos, legítimos e ilegítimos. Dois deles chegaram a reis: D. Fernando e D. João I. Também mandou, tempo depois, construir mesmo em frente da lápide de Inês uma para ele onde foi enterrado em 1367. Diz-se que estão nesta posição para que, quando acordarem no dia do Juízo Final, olhem imediatamente um para o outro.

Gustavo Y.

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