terça-feira, 9 de novembro de 2010
Editorial
Posted by Revista Presença Lusitana | terça-feira, 9 de novembro de 2010 | Category:
Editorial [5]
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O Tejo, o maior rio da Península Ibérica, estende-se ao longo de 1009 quilómetros. Nasce na serra de Albarracim, a 1593 metros de altitude, em Espanha, e desagua no oceano Atlântico, por um largo estuário com cerca de 260 km2, alguns quilómetros adiante de Lisboa, em S. Julião da Barra. Depois de atravessar o planalto de Castela-a-Nova e a Extremadura espanhola, entre desfiladeiros e vales apertados, entra em Portugal. Antes disso, faz fronteira entre Espanha e Portugal através do troço internacional do Tejo, com uma extensão de cerca de 50 km. As margens são rochosas e abruptas e o vale estreito. Em território português o Tejo recebe da margem esquerda o Sever, o Sorraia e o Almansor que, à excepção do primeiro, são rios de planície com as mesmas características do Tejo na sua secção inferior. Da margem direita o Tejo recebe os rios Erges, Ponsul, Ocreza, Zêzere, Alviela e Maior, que descem da montanha, quase todos de carácter torrencial, sendo o mais importante o Zêzere, que tem a sua origem na serra da Estrela.
Este caminho é muito semelhante àquele que vocês, meus caros alunos, meus queridos filhos, fazem continuamente. Começam com a língua espanhola e sem a abandonarem chegam até terras lusas, falas lusas. Por vezes as margens são rochosas e abruptas por outras abrem-se largos estuários onde conseguem sentir-se a vontade na língua de Camões. Tal como o Tejo, meu doce Tejo, precisa de ajuda doutros rios cúmplices para se transformar em um mar e fazer crescer o oceano, vocês também a precisam. Procuram-na e encontram-na em diferentes lugares. Em um dicionário, em uma gramática, na net, nalguma canção descarregada de borla, em mim, o vosso professor, nos vossos colegas e amigos da turma ou doutras e agora aqui, na nossa Presença Lusitana para se alimentarem e se tornarem também em um mar, um mar português.
Sabe-se que é difícil. Sabe-o o Tejo. Sei-o eu. Sabem-no vocês. Sabia-o também Saramago e por isso dizia que a única maneira de liquidar o dragão é cortar-lhe a cabeça, aparar-lhe as unhas não serve de nada. Todos nós somos conscientes que no percurso iremos encontrar dificuldades mas o que as derrotas têm de bom é que não são definitivas e além disso ensinam-nos muitíssimas mais coisas do que as vitórias. Mas com calma como o Tejo que corre há milénios sem se arrepender e que nos aconselha: não tenhamos pressa, mas não percamos tempo e assim iremos ver como cada dia traz sua alegria e sua pena, e também sua lição proveitosa.
Aprendemos? Aprendemos, sim senhor! Com certeza que aprendemos. Aprendemos dos outros. Aprendemos do trabalhão em equipa. Aprendemos a sentir uma satisfação de um objectivo atingido em conjunto. Aprendemos a deixar outros partilharem dos nossos logros. Aprendemos a permitir outros entrarem nos nossos mundos. Aprendemos a acreditar com grande força uns nos outros e ainda bem que foi assim pois quem acredita levianamente tem um coração leviano.
A Presença Lusitana acaba? Não pode acabar aquilo que vive dentro de nós. Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória. Uma memória que não pode morrer. Não vai morrer. Hoje que chega a hora em que descobrimos que sabíamos muito mais do que antes julgávamos só vos posso aconselhar, em uma enorme tentativa de revolta contra as despedidas todas, o mesmo que desde o início vim sugerindo: Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.
Professor Alejandro Sánchez Celis
CLE FES-Aragón UNAM
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