terça-feira, 9 de novembro de 2010
Este mundo (que continua) com a injustiça globalizada
Posted by Revista Presença Lusitana | terça-feira, 9 de novembro de 2010 | Category:
SARAMAGO E O MUNDO
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Não sou pessimista, o mundo é que é péssimo.
José Saramago
José Saramago
No final de Janeiro de 2002, Saramago foi convidado a pisar o solo brasileiro, para participar, junto com outros grandes nomes da literatura, da política e representantes de organizações não-governamentais, do “V Fórum Social Mundial” realizado em Porto Alegre, encontro pautado pela busca de alternativas de desenvolvimento viáveis. Ali apresentou um texto nomeado “Este mundo da injustiça globalizada” onde falou sobre o fenómeno da globalização económica.
Saramago foi um dos poucos humanos que nasceram com o dom da palavra, da palavra precisa, uma palavra capaz de tornar-se em acção depois de ela passar pela mente doutras pessoas só basta com lermos alguns dos seus escritos para nos apercebermos que esta afirmação é real. Saramago escreveu um livro sobre a cegueira social, falou sobre tópicos sociais, políticos, culturais e religiosos até, e foi por ele “ousar” falar sobre da cruel realidade, que teve problemas no seu país e com a sua gente, mas também ganhou o respeito e a admiração doutras pessoas.
Neste texto Saramago conta um facto histórico que aconteceu na aldeia de Florença no século XVI onde um homem camponês chama a toda a gente do povo tocando um sino. O som dos sinos, nesses tempos, era usado para avisar a gente que alguém tinha morrido ou que uma catástrofe tinha acontecido, mas desta vez, o homem tocou o sino para anunciar a morte da justiça, a justiça que cada dia e cada minuto morre neste mundo capitalista, onde os mais poderosos (os homens acaudalados) podem fazer e desfazer a vontade e a maior parte das pessoas tem de ficar a ver como a sua vida se torna miserável.
A metáfora que Saramago usa com os sinos poderia traduzir-se agora, como ele propõe, com os movimentos sociais, movimentos de resistência e acção que pugnam pelo estabelecimento de uma nova justiça distributiva.
O principal problema que Saramago reconhece neste escrito é a injustiça global, um fenómeno que representa uma das tantas consequências da globalização, porque embora existam os tão conhecidos Direitos Humanos, e uma justiça personificada no corpo de uma mulher, com os olhos vendados, com uma balança que mede as penas dos homens que merecem ser castigados com igualdade, e com uma espada que defende o inocente quando é preciso, no final ele afirma que essa justiça não é outra coisa mais do que uma farsa pois a balança está viciada, deixa-se cair contra o menos poderoso, do menos rico, do homem mais humilde. Enquanto a venda que leva nos olhos, essa tem um buraco pelo qual olha para reconhecer e decidir a quem convém ajustiçar e essa espada que só defende quem paga mais a quem o faz para ser protegido.
Um dos maiores problemas no mundo, diz Saramago, é que a gente está a perder o valor de humano. Agora as pessoas valem mais pelas coisas que possuem, pela quantidade de dinheiro que têm no banco, pela marca de roupa que elas vestem, pelo número de casas ou carros que lhes pertencem. Neste mundo não importam mais os valores, não importa se a gente tem ou não um bom coração, uma só virtude humana, a qualidade de cada um e directamente proporcional à posição social.
Saramago também critica o milenário invento de uns atenienses ingénuos; a democracia, que noutras palavras, não é mais do que uma formalidade da dominação, uma forma que os líderes da economia converteram em uma mentira para legitimarem o controlo da população, é verdade que podemos votar… a possibilidade de acção democrática começa e acaba aí, o Prémio Nobel de Literatura afirma que o sistema democrático está em decadência e que é urgente promovermos um debate para corrigirmos o erro no qual o ser humano se encontra, se é que se quiser salvar o futuro.
O escritor da língua lusa é ciente de que o planeta se encontra em uma catástrofe, mas ele afirma que ainda estamos a tempo de fazer algo, o problema é o egoísmo de uns poucos cujo sonho é dominar aqueles que são como eles, homens, mulheres, crianças, todos são iguais e todos merecem respeito, uma vida digna.
Os sinos como os da história da Floreça não tocam, ou se tocarem, já não o fazem com a mesma força, a gente já não vai mais ao chamado deles, e se calhar muitas pessoas ouvem-nos, mas estão tão ocupados com sobreviver que não têm tempo para acudir, para lutar ou estão cegos ou simplesmente perderam a fé e a esperança de um mundo melhor.
Não precisamos de ser grandes intelectuais para nos repararmos no que neste mundo está a ocorrer, não precisamos de ter os máximos estudos, nem de pertencer a determinada camada social, nem sequer de ser homem ou mulher, só basta com viver um dia neste mundo.
Depois de ler o texto “Este mundo da injustiça globalizada” a gente consegue uma pequena luz que tem efeito de dupla acção, uma consciência e uma esperança, uma luz com a qual é possível mudar o que está a acontecer, uma pequena acção individual pode marcar a diferença. Afinal, como diz Saramago; não há pior engano do que o daquele que a si mesmo se engana.
• Para ler o texto completo de “Este mundo da injustiça globalizada”: http://www.economiabr.net/2002/03/01/saramago.shtml
Enrique.Tristán.
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