terça-feira, 9 de novembro de 2010
O México de José Saramago
Posted by Revista Presença Lusitana | terça-feira, 9 de novembro de 2010 | Category:
SARAMAGO E O MUNDO
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A dor existe em todos os cantos da terra. A injustiça mora em todas as nações do mundo. Mesmo que estas fiquem longe de nós, temos de reparar e tentar ser sensíveis às tragédias que envilecem o nosso planeta. Isso nos ensinou o escritor José Saramago; esse foi apenas um dos seus tantos legados.
Para ele, o México não foi nunca uma terra alheia, sobretudo o problema das constantes violações dos direitos humanos dos indígenas no estado de Chiapas. Saramago ofereceu um total apoio moral para toda a gente do lugar.
O que aconteceu antes da primeira visita do Prémio Nobel àquela zona é já bem sabido por todos nós (ou deveria por causa de uma mínima responsabilidade ética): em 22 de Dezembro de 1997 um grupo paramilitar assassinou 45 sujeitos, dos quais 22 mulheres e 18 crianças, todos simpatizantes do Exército Zapatista de Liberação Nacional. Um par de meses depois, Saramago viajou para conhecer mais de perto a complicada situação aí vivida:
“Vi o horror. Não o que já vimos em lugares como a Bósnia ou a Argélia. Não. Este é um outro tipo de horror. Estive em Acteal, no mesmo lugar da carnificina...escutando os sobreviventes. É difícil expressar o que se sente quando a gente sabe que tem os pés no mesmo lugar onde há três meses assassinaram estas pessoas”.
Uma verdadeira lição de solidariedade e fraternidade foi o presente saramaguiano para todos os mexicanos do momento, incluindo governantes e autoridades, sempre tão cegos a recomendações deste tipo:
“Se alguma vez houve na história da humanidade uma guerra desigual, não a houve nunca como esta. É uma guerra de desprezo, de desprezo aos indígenas. O governo esperava que com o tempo se acabassem todos, simplesmente isso (...) mas eles sobrevivem alimentando-se da sua própria dignidade”.
Saramago jamais acreditou ter um poder especial pelo simples facto de ser um escritor. Entre muitas outras qualidades, a humildade era por de mais sua. Ele sabia-o, por isso disse isto para todo um povo prejudicado, que bem poderia ser qualquer do país:
“Se a voz de um escritor lhes servir para algo, a minha voz é a vossa voz. Seguirei até o final da minha vida com a consciência de que a minha voz não é só minha, porque acredito que pela boca de cada um de nós está a falar a humanidade inteira”.
Pareceria que Saramago tinha um vínculo de sangue com o mundo, especificamente com todo aquele que está a sofrer e nós, os mexicanos, sempre lhe estaremos agradecidos por ter olhado a parte mais esquecida da nossa sociedade: os indígenas.
“O povo do México tem de reclamar ao seu governo uma paz justa e digna. Eu não posso, só sou um escritor estrangeiro acusado de ingerência (...) não estou a pedir um levantamento, senão simplesmente que as consciências se manifestem...estou a pedir uma insurreição moral, desarmada, étnica”.
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Definitivamente, ao mundo lhe faltam mais Saramagos... mais daquelas pessoas que deixam de olhar um pouco para si e começam a olhar para os demais, para o bem comum, para a justiça.
'Um vínculo de sangue', é, nos falta ser um pouco mais irmãos do mundo, mais irmãos dos nossos irmãos.
Ótimo artigo... (com o texto justificado , rs) parabéns.